terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A FUNÇÃO DO SALMISTA




Por ser de suma importância o ministério litúrgico do salmista, ele merece um artigo à parte. Tão importante quanto a do leitor, que proclama a Palavra de Deus, a função de cantar o Salmo Responsorial, após a primeira leitura, é também um gesto sacramental, sinal sensível da presença de Deus. É uma leitura-proclamação, que deve ser cantada de preferência, como um prolongamento meditativo da leitura proclamada.

 O salmista coloca-se a serviço de Deus, emprestando-lhe sua voz, sua comunicação, seus gestos, sua pessoa. E coloca-se a serviço da comunidade reunida em assembleia para ouvir a Palavra. 

Trata-se, portanto, de um conjunto de atitudes a serem assumidas por quem canta o salmo, para que seja expressão do Deus vivo que fala à comunidade, e ao mesmo tempo, resposta orante do povo à Palavra ouvida: o modo como se dirige ao ambão, seu olhar, seus movimentos, sua dicção, o tom e a modulação da voz, enfim todo o modo de cantar e de ser, toda a postura do corpo. Movido (a) pelo Espírito, o (a) salmista proclama com os lábios e o coração a mensagem do texto bíblico, para que o povo escute e acolha o que a Igreja lhe diz naquele dia.

 Da parte da assembleia, ela deve ter "os olhos fixos" em quem proclama cantando o Salmo (Lc 4, 20), sem acompanhá-lo, assim como as demais leituras, pelo folheto ou mesmo pela Bíblia. Ele deve ser proclamado do Lecionário Dominical, nossa "Bíblia Litúrgica", segundo Dom Clemente Isnard.

Dois são os modos de executá-lo:
 1) a forma responsorial, em que o salmista propõe o refrão, cantando-o sozinho, a seguir repetido pela comunidade, e cantando as estrofes, geralmente em forma livre, numa espécie de recitativo, ouvidas e acolhidas pela assembleia, que participa  no refrão;
 2) a forma direta, em que o salmo é todo cantado pelo solista, sem interferência nem participação da assembleia, que só escuta. De preferência seja usada a primeira forma, por promover uma participação ativa (canto) e passiva (escuta) da comunidade celebrante.
Em diversos encontros de liturgia e canto pastoral já foi colocada a seguinte questão: poderia o próprio instrumentista, lá do seu lugar, onde está o grupo de canto, tocar e cantar o salmo? Não é liturgicamente o mais adequado, primeiro, porque os documentos da Igreja insistem em que"Cada um, ao desempenhar sua função, faça tudo e só aquilo que pelas normas litúrgicas lhe compete." (Sacrosanctum Concilium). Salmodiar requer um dom especial e é um ministério próprio. Depois, porque o Salmo Responsorial deve ser proclamado do ambão ou da estante da Palavra, como as demais leituras.
 Algum instrumento que acompanhe o salmista, seja discreto e suave, servindo apenas de apoio, nunca se sobrepondo à mensagem do texto, que tem a primazia. Requer-se do salmista formação bíblico-litúrgica, espiritual e musical, bem como prática no manuseio do Lecionário e outros livros litúrgicos. "Cantar no Espírito" supõe preparação anterior, evitando-se a improvisação.
"Devemos cantar, salmodiar e louvar ao Senhor mais com o espírito do que com a voz ... O servo de Cristo cante de tal forma que não se deleite na voz, mas nas palavras que canta." (São Jerônimo)
*Ir. Miria Kolling é Religiosa da Congregação do Imaculado Coração de Maria, compositora da música litúrgica e religiosa, musicista, pedagoga, gravou mais de 30 trabalhos em LPs e CDs, como também livros sobre canto e liturgia
*Texto Gentilmente cedido pela Ir Míria Kolling

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